O Flamengo reuniu o melhor treinador brasileiro e o melhor elenco do país. É como aqueles momentos em que apresentamos dois amigos de núcleos diferentes (um do trabalho, outro da faculdade) que têm tudo em comum: piadas parecidas, o mesmo gosto musical, o mesmo time. É evidente que eles vão se dar bem. E aí, por algum momento, não flui, não anda – simplesmente não acontece.
Este Flamengo de 2024, em idos de agosto, é um cumprimento que fica no vácuo, é uma bola que gira no aro e cai para fora, é um ônibus que fecha a porta e parte lentamente enquanto corremos em desespero até o ponto. É um time sempre em vias de – mas que nunca é. É uma teoria não comprovada na prática. É um verbo no futuro do pretérito, não no presente. O Flamengo seria; o Flamengo não é.
A goleada de 4 a 1 para o Botafogo, neste domingo, em jogo fundamental na briga pela liderança do Campeonato Brasileiro, escancarou essa dicotomia entre o Flamengo onírico e o real. No sonho, é Bruno Henrique fazendo chororô para a torcida rival; na realidade, é ele olhando para a tabela depois do jogo e vendo cinco pontos de distância para o líder.
O leitor poderá contra-argumentar, e estará coberto de razão, que ainda há três títulos no horizonte do Flamengo: o da Libertadores (venceu o jogo de ida das oitavas de final em casa, contra o Bolívar, por 2 a 0), o da Copa do Brasil (está nas quartas de final) e o do próprio Brasileirão (tem um jogo a menos do que o Botafogo). Mas, para alcançá-los, o time precisará encontrar um rumo. É decepcionante que, a essa altura da temporada, haja uma rota a ser corrigida.
A frustração é do tamanho da expectativa. Tite é muito bom treinador, tem grande repertório. Já foi campeão de tudo que é jeito: com um 3-5-2 envolvente na Copa do Brasil de 2001 com o Grêmio, com um 4-4-2 ortodoxo na Sul-Americana de 2008 com o Inter, com um 4-2-3-1 encantador no Corinthians multicampeão sob seu comando (e que depois ele reinventou em um 4-1-4-1).
E no Flamengo ele encontrou tudo que um treinador deseja: zagueiros confiáveis, meias talentosos, atacantes decisivos. Quem no Brasil pode escalar De la Cruz, Gerson e Arrascaeta juntos? Quem pode escolher entre Bruno Henrique e Everton Cebolinha ou entre Pedro e Gabigol? Mas a coisa simplesmente não vai.
Nesse momento, é preciso reconhecer as dificuldades que as lesões impõem ao Flamengo. O time perdeu, nas últimas semanas, Viña, Cebolinha, Pedro e Gabigol. E viu Arrascaeta sair com apenas quatro minutos de jogo no clássico. É muito problema junto. Só que também é preciso lembrar que os desacertos vêm de antes. O Flamengo ainda tateia em busca de uma escalação, e logo, logo estaremos em setembro.
O alento é que os mesmos elementos da frustração servem de esperança para uma reviravolta: há qualidade de sobra no elenco, e o treinador é competente. Se finalmente acontecer o encaixe, dá tempo de salvar o ano. Mas não foi o que sugeriram os últimos jogos.
Fonte: netfla.com.br