Destaque do
Flamengo
na vitória por 3 a 0 sobre o Millonarios, David Luiz lançou mão de reflexões para externar o que pensa sobre a constante pressão sofrida por jogadores de futebol e também ao avaliar a visão profunda que, em sua opinião, Tite tem em relação ao elenco rubro-negro.
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Questionado como encara a exigência alta da torcida do
Flamengo
, especialmente após tropeços na Libertadores e no Brasileiro, David não apontou dedo aos apaixonados e identificou esse tipo de comportamento como reflexo de uma sociedade que está “ansiosa” e “depressiva”.
– Acho que é mais um problema mundial, estamos vivendo num momento onde as pessoas estão ansiosas, depressivas. As pessoas estão imediatistas e já não têm paciência para nada. Onde infelizmente a tristeza está imperando mais que a alegria. E dentro do esporte as pessoas estão deixando que o mas, o M-A-S, exista muitas vezes. “Esse é time muito bom, mas…” “Esse jogador é mundo bom, mas…” Minha vida está boa, mas…”. “Meu trabalho é bom, mas..”. Esse mas faz com que as pessoas deixem de enxergar o que elas podem desfrutar.
– Para mim, vai muito mais além nessa parte de vida mesmo e de você estar vivendo todos os dias e estar agradecendo a Deus. A gente teve um exemplo do Rio Grande do Sul, onde de um dia para o outro você pode não ter mais nada. E as pessoas que têm tudo estão deixando o que “mas” cegue-as daquilo tudo que elas têm. E dentro do futebol é a mesma coisa. Nós, como jogadores de um grande clube, devemos entender dessa forma e enxergar de maneira natural. E saber que vamos dar o nosso melhor sempre dentro de campo.
No comparativo com o futebol, David disse que, com base no que entende da sociedade, os jogadores têm de encarar os desafios, mas também desfrutar o “presente que é defender o
Flamengo
“.
– Minha vontade era que a gente performasse da melhor maneira sempre, com futebol de cinco, seis, sete a zero, com todo mundo feliz, mas não é a realidade. Temos que ter jogo de cintura e maturidade para aceitar ser cobrado e crescer. Na hora de falar tem que falar, na hora de ficar quieto tem que ficar quieto. São os momentos de crescimento, mas nunca deixando de botar a cara e de encarar aquilo que nos foi dado que, é um grande desafio e que também é um grande presente: representar o
Flamengo
.
Ainda numa análise mais humana sobre
Flamengo
, David Luiz destacou o quanto é importante a chegada de um profissional como Tite, que tem preocupação com o passado, o presente e o futuro do clube. O tema foi levantado quando Bluthiere Lima, repórter da Fla TV, convidou David a comparar o atual treinador com Dorival Júnior, a quem havia se referido em 2022 como “alguém que estava entendendo as dores do
Flamengo
“.
Dorival chegou ao clube após o Rubro-Negro perder em sequência Libertadores, Supercopa do Brasil e Campeonato Carioca. Tite assumiu o
Flamengo
depois de um 2023 repleto de decepções.
– Dentro de um clube grande como o
Flamengo
existe vida. E essa vida é analisada e continua. Não é que você morre e nasce de novo, você continua. Quando comentei que o Dorival estava entendendo as dores (do
Flamengo
) é porque ele tinha esse olhar profundo e o interesse em saber dessa forma. E o Tite vem da mesma maneira. Independentemente se ele encontra (o clube) no final de uma temporada, a vida do
Flamengo
já tinha existido. Foram dores no ano passado, e o Tite preferiu vir mais cedo porque sabia que esse trabalho deveria ser implantando mais cedo para ter sucesso a curto prazo, que era o objetivo no Carioca.
– Agora vem com muito mais corpo essa filosofia implantada, que fez com que a gente pudesse superar um momento difícil de duas ou três derrotas consecutivas há um mês. Tite vem tentando fazer isso da melhor maneira possível, e ele se interessa por isso. O intuito sempre é fazer com que todos consigam entender a importância, o que se deve trabalhar e entender o que representa. E a gente representa um dos maiores clubes do mundo e quem veste essa camisa tem que enxergar sempre que é um clube com vida, não é um clube à toa. Num clube com vida, você vai existir em inúmeros momentos, mas você deve sempre tentar sobreviver.
Oscilação no Grupo E e aprendizados
– Você joga sempre contra alguém, foram escolas diferentes. Mesmo com questão de altitude e times bem apresentados. Millonarios veio para o Maracanã sem chance de classificação e batalhou, tentou jogar. Teve o Bolívar, o Palestino. Tivemos inúmeras oscilações na fase de grupos, nem tanto de performance, mas de resultado. O próprio jogo com o Palestino fora de casa retrata bem isso. A gente pôde controlar, criou muito mais oportunidades, e você acaba perdendo o jogo por um golaço de fora da área. E depois apaga tudo que você fez, mas não para nós que estamos todos os dias estudando e analisando o que fazemos.
– Infelizmente chegamos ao último jogo da fase de grupos dependendo da nossa vitória, mas vindo de uma maneira muito convincente, com time muito coeso e muita maturidade. Esses tropeços de resultados nos deram oportunidade de rever muita coisa que a gente deveria mudar, e isso nos fortalece para a próxima fase.
Grande atuação individual contra o Millonarios
– Não gosto de falar de mim (risos). Muitas vezes com o resultado você apaga algumas das suas atuações. Tive minha autocrítica nos jogos que participei, principalmente na fase de grupos da Libertadores, e foi apagado devido ao empate com o Millonarios e à derrota para o Bolívar. Mas sabia que trabalhando no dia a dia e construindo o que devo construir no dia a dia do grupo para estar disposto na hora em que fosse chamado, isso ia acontecer de forma natural.
– Você não consegue jogar bem do dia para a noite. É uma construção desde a pré-temporada. Ontem pude dar uma parcela de contribuição positiva, mas feliz pela performance da equipe e pelo que o grupo vem aprendendo e desempenhando. Não vai ser fácil, temos inúmeras competições e todos têm que estar preparados.
Avanço à linha de fundo na jogada do segundo gol
– Muitas das vezes se dá pela característica do jogo, a forma como o outro time está se defendendo e de interpretação do espaço do momento. Eu vi o espaço, avancei, depois criei uma nova linha, fui para o fundo e quando olhei para a área não tinha ninguém. Tive que cortar e ganhar mais um segundos, e o Gerson estava bem posicionado para fazer a outra ação. Tem que ser tudo entendimento do que a partida está se apresentando. Você tem que estar preparado para interpretar de que maneira vai ser melhor jogar para você conseguir ajudar a equipe.
Mata-mata da Libertadores
– Sem dúvida vai ser um momento crucial da temporada, é um título que a gente ambiciona muito conquistar novamente. Não vai ser fácil, mesmo que tivesse classificado primeiro e decidindo em casa. Nunca será fácil. Temos que nos preparar para enfrentar qualquer tipo de adversário. Vamos ter jogo no Maracanã. O jogo do Maracanã não é anulado e temos que ser fortes jogando fora de casa.
Ajuda constante a atletas jovens, que sempre citam David Luiz
– Só posso ajudar porque muitas pessoas me ajudaram. Tenho prazer em vê-los crescerem e amadurecerem. Quero que eles possam viver muita coisa que vivi ou muito mais. Não estou só passando aos mais jovens, mas estou também recebendo muitas coisas dessa pureza e dessa inocência do que eles vão viver. Isso me ajuda a enxergar bastante o quanto abençoado fui durante a carreira e sou até hoje.
– Me encaminho para a reta final da minha carreira, pode ser daqui a um ano ou três anos, mas em um dos maiores clube do mundo. E tendo a oportunidade de ver tantos talentos. Uns chegam para ficar, outros já temos que deixá-lo voar porque o passarinho ficou grande, a asa não está mais para cá. Outros conseguem desempenhar, outros estão na oscilação natural da idade, mas que de certo modo nos cativa a viver perto. Isso me cativa e me deixa alegre. Fico sem dúvida nenhuma satisfeito de vir trabalhar.
– Brinco muito com eles, e muitos me chamam de coroa. Hoje corro atrás dos meninos de 20, de 18 anos. Enquanto eu der conta disso, vou continuar jogando futebol. É um prazer continuar ajudando.