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Antes vista como tabu, a saúde mental dos jogadores de futebol se tornou um tema fundamental na atualidade. Nos últimos meses, atletas de elite,

como o atacante Richarlison

, e ex-jogadores, como Ronaldo Fenômeno, destacaram a importância do trabalho de psicólogos em suas vidas e carreiras.

Além de atendimentos particulares, esses profissionais atuam como parte integrante da comissão técnica de clubes. Entre as 20 equipes da Série A do Brasileirão, 13 têm profissionais contratados nessa área. O


São Paulo tem departamento, mas ainda busca um novo profissional


.

Clubes da Série A com psicólogos na comissão técnica

Clubes Tem psicólogo na comissão? Nome do profissional
Athletico Não
Atlético-GO Sim Ana Isabela Egídio
Atlético-MG Sim Michele Rios e Patrício Morales*
Bahia Sim Marisa Santiago
Botafogo Sim Paulo Ribeiro
Bragantino Sim Augusto Naressi Marcondes Carvalho
Corinthians Sim Anahy Couto
Criciúma Sim Francineli Becker
Cruzeiro Sim** Marina Vidual
Cuiabá Não
Flamengo Não
Fluminense Sim Emily Gonçalves
Fortaleza Sim Christian Rodríguez
Grêmio Não
Internacional Não
Juventude Não
Palmeiras Sim Gisele Silva
São Paulo Não
Vasco Sim Renato Santoro
Vitória Sim Ronaldo Queiroz


*Michele Rios já era profissional do clube. Patrício Morales veio na comissão técnica de Gabriel Milito

.


** Após a publicação da reportagem, o Cruzeiro informou que recentemente finalizou a contratação da profissional

O espaço da psicologia dentro das comissões técnicas vem crescendo com o tempo. Segundo explica

Andreia Cardoso, especialista em Psicologia do Esporte aplicada ao alto rendimento,

existem duas vertentes:


Eles trabalham tanto para “otimizar o desempenho esportivo dos atletas” quanto para ajudar, amparar e acolher os jogadores individualmente, falando especificamente sobre o futebol.

Clubes investem em departamento de psicologia no futebol — Foto: Infoesporte

A vida do psicólogo que é inserido em clubes é participar da rotina de treinos. Precisa de espaço para falar e se fazer entender sobre o que ele trabalha, a sua forma de trabalho. Fazer com que tanto a comissão técnica quanto atletas encarem como mais uma ferramenta de auxílio na performance.

A presença de profissionais deste setor em comissões técnicas é um fenômeno relativamente recente e não tão comum. Cardoso ressalta que trabalhar a saúde mental de atletas é um complemento a todo o trabalho feito e uma ferramenta para alcançar a excelência, assim como a fisiologia, a fisioterapia e a preparação física.

Mas o espaço no futebol ainda não é tão claro. Fernando Diniz é um dos principais técnicos do futebol brasileiro e também um dos expoentes da profissão a comentar o assunto abertamente.

Formado em Psicologia, o treinador ressalta a importância do trabalho dentro dos clubes, mas acredita que o essencial precisa ser feito pelos atletas fora do dia a dia do CT.

– Eu acho muito importante, tem que ser uma coisa mais profunda e levada mais a sério. Talvez o psicólogo no clube de futebol tenha a função de identificar o problema e encaminhar. Eu acho muito difícil o psicólogo no clube conseguir fazer a terapia. Acho que fazer um primeiro acolhimento e depois direcionar para espaços fora do clube, para o jogador poder desenvolver com mais profundidade.


Muita gente precisa quebrar também esses preconceitos que ainda existem no futebol, ainda muito forte, de jogador aceitar fazer uma terapia para poder se reorganizar emocionalmente. Teria um ganho muito grande.

— Fernando Diniz

Entre os clubes que não possuem um psicólogo contratado para a comissão técnica, existem diferentes procedimentos para ajudar a cuidar da saúde mental dos atletas.

No

Flamengo

, por exemplo, não há profissional presente no dia a dia, mas o clube tem psicólogos parceiros – contratados como prestadores de serviço – para os quais encaminha os atletas. Um caso recente ocorreu com Michael, hoje no Al Hilal.

O procedimento adotado começa no departamento médico. Quando os profissionais da área identificam uma demanda por parte dos jogadores, eles acionam esse prestador para realizar o atendimento.

Tite em treino do Flamengo — Foto: Marcelo Cortes / CRF

O

São Paulo

vive um cenário um pouco diferente. Há o departamento destinado à psicologia, porém, como perdeu a sua profissional para o Corinthians na virada do ano, o clube ainda está em busca de um novo psicólogo. Internamente, o Tricolor considera a área importante e usa como exemplo a ajuda que Alisson recebeu em 2023 para superar quadro de depressão.

O CEO do

Fortaleza

, Marcelo Paz, classifica a presença do psicólogo no futebol como “muito importante”, assim como em qualquer setor da sociedade. Ele ressalta que, por causa da exposição, ter alguém para ajudar a lidar com as pressões é importante dentro do elenco.

Segundo Paz, o psicólogo que trabalha no Leão do Pici está presente no dia a dia em todas as atividades e também há o atendimento individual aos jogadores, cujos nomes são mantidos em sigilo em razão da ética profissional.

O clube recentemente passou por um episódio marcante no atentado ao ônibus após uma partida contra o Sport pela Copa do Nordeste. O dirigente destacou como o profissional atuou para ajudar os atletas e as famílias após o episódio.

– Nosso psicólogo ficou à disposição para ajudar não só os atletas como as famílias. Para ajudar em como lidar com essa situação traumática e manter o bem-estar, a harmonia e a alegria de trabalhar e a performance. Porque no futebol somos cobrados por performance o tempo todo e, mesmo com o acidente, não deixamos de ser.

O diretor de futebol do Fluminense, Paulo Angioni, vai além. Para o dirigente,

todos os clubes já deveriam ter uma área voltada para a psiquiatria

, com o objetivo de fazer um atendimento mais completo, juntando as duas áreas da saúde mental.

Esse foi o movimento adotado pelo

Vasco

recentemente.

O clube fundou um “Núcleo de Psicoterapia Integrada” que tem tanto um psicólogo quanto um psiquiatra

. A inspiração vem de franquias da NFL, principal liga de futebol americano dos Estados Unidos.

Renato Santoro e Hélio Fadel, psicólogo e psiquiatra do Vasco — Foto: Leandro Amorim/Vasco

Para o atacante André Felipe, recém-contratado pelo América-RJ e com passagem por grandes clubes da Série A do Brasileirão, o acompanhamento psicológico é fundamental na carreira de um atleta de alto rendimento.

Ele viveu um período difícil quando deixou o Santos, em 2010, e se transferiu para o Dinamo de Kiev, da Ucrânia. Ao se deparar com um futebol e uma cultura muito diferentes, ele recorreu à terapia.

– A importância nos tempos de hoje é ainda maior por causa das redes sociais e toda a exposição que causa. As pessoas comentam ao vivo e parece que a rede social traz o ódio. Todos os jogadores precisam se blindar disso. Você acaba achando que a avaliação da internet é real e esquece do teu próprio valor, da tua luta, do teu trabalho e do dia

Fonte: netfla.com.br